sábado, 30 de junho de 2007

porque alguns merecem o fim que tem e outros não...

esse blog não é para ser mórbido e ficar falando de morte o tempo inteiro, até porque ele tem como foco as reticências e não o ponto final... mas é que quando acabei de escrever este primeiro post, percebi que citei várias pessoas... e aí fiquei pensando que existem caras que poderiam ter ficado mais tempo entre nós e caras que não... por exemplo...

kurt cobain poderia ter ficado um pouco mais, aquele cara ia demorar de se vender e ia dar muito trabalho... ia enveredar por outras artes, cinema, literatura, dirigindo, produzindo... ia ser preso ainda umas dez vezes... ia ser internado várias também... merecia deixar uns cinco discos mais... pelo menos...o fim desse cara foi uma sacanagem...

os mamonas, os nossos ritchie valens... bom contra-exemplo: alguém tem dúvida de que aqueles caras hoje iam ter a cara do detonautas? porra, eles eram jovens, não iam passar o resto da vida fazendo aquilo ou iriam acabar fazendo ponta com o tiririca no show do tom... iriam assumir a pose dos garotos revoltados que não se revoltam, que fazem passeata pela paz no rio mas não conseguem largar um baseadinho “pela causa”... eu ainda preferia o mamonas no show do tom cantando robocop gay...

raul seixas, esse foi numa boa hora, deixou uma obra extensa, uma vida corajosa, várias histórias, começou a fazer algumas merdas, como todo bom ser humano... digo que foi numa hora boa porque acho que hoje ele não seria coisa bonita de se ver não... todo mundo sabe que ele nunca foi muito esperto com dinheiro, iria estar passando perrengue, podia até ir de cara feia, mas não iria negar o mainstream... tipo acústico do raul mtv, arquivo confidencial do raul no faustão, raul virando escritor místico... é, raul morreu bem...

tim maia era o tipo de cara que eu sempre vi como irrecuperável... um kurt cobain que chegou aos sessenta... mas um kurt que conseguiu escapar, porque quando ele fez o racional ele devia estar trancado em casa com uma arma na mão por uns dois meses, totalmente no limite, e aí, de repente, teve a “iluminação racional”... o caminho do bem... alguém deve ter mostrado este caminho para ele, não acredito que pudesse sair sozinho... alguém conhece detalhes desta história?

morreram primeiro justamente os beatles que mais a humanidade precisava... bush não seria o mesmo se lennon estivesse vivo, até mesmo porque a yoko ia tá fazendo marcação cerrada... ok, concordo que eles não durariam juntos muito mais tempo, assim como paul, uma hora john ia sacar que aquela mulher era uma carranca e que podia ter do lado uma figura mais apresentável... ele faria isso... mas a yoko ia perseguir... um belo dia lennon ia aparecer com dor nas costas, andando encurvado, e numa foto tirada no vigésimo aniversário do “the war is over”, iríamos ver o vulto daquela carranca no pescoço dele...

george sempre foi quieto, pacato, na dele... quando não se esperava nada dele, ele inventou um concerto pra bangladesh... era o beatle que ninguém tinha expectativas... planejava suas coisas em silêncio e aí de repente nos brindava com “something”, “while my guitar gently weeps”, “give me love”, “”... sempre esteve ao lado de figuras de crédito... lennon, clapton, bob dylan, tom petty... mas nunca a frente delas... era um amigo leal e talentoso como o que poderia tirar o kurt da merda e faze-lo produzir, ele fez isso com o lennon, com o clapton... e se alguém perguntar: como você sabe que ele era leal? você se imagina ajudando o cara que compõe músicas como Layla, ou Wonderfull Tonight para sua mulher e assume na sua frente que morreria por ela? é dose... o cara só podia ser legal....

mas aí olha a sacanagem, matam lennon e deixam roberto carlos vivo... e esse episódio do livro dele é incomentável... e quem, em sã consciência, aguenta especial de fim de ano do roberto carlos?? e não dá pra dizer que roberto carlos é uma merda, porque não é... alguém precisava ter protegido o roberto carlos dele mesmo... mas agora já perdeu a chance de virar mártir e ser admirado eternamente... a obra dele sobrevive mais meio século, mas aposto que meus netos não saberão quem foi ele... faço um bolão com aqueles que toparem... o melhor agora pro roberto é deixa-lo viver sua vidinha até o fim... quando ele começou com aquela história de “vou fazer um café da manhã pra nós dois” deviam ter oferecido asilo político pro Lee Harvey Oswald em troca de um servicinho... pelo bem do próprio roberto...

sexta-feira, 29 de junho de 2007

...assim começam as reticências...

o reticente sente, sente, e ressente, insatisfeito de sentir o suficiente uma vez somente... é o perfil do cara inquieto com a idéia de estabelecer o ponto final, até mesmo porque, este não é meu papel... o sentimento primeiro, a rainha do formigueiro, não sei qual é e nem me atrevo a pensar em qual tenha sido... este primeiro sentimento se perdeu no meio da imensidão de sensações operárias, necessárias, tão escravos somos tanto da fisiologia da espécie quanto do DNA da tradição familiar...

...e se não posso recordar deste sentimento primeiro, porque devo pensar nele? me parece ser tão perda de tempo quanto aquelas perguntas que não levam a lugar nenhum, do tipo "De onde viemos?", "Quem somos nós?", "Teoria do Big Bang", etc... se pensa tanto nisso que se esquece o principal... que a vida passa... ela acontece no exato momento em que perco este tempo enorme pensando em vivê-la, sem poder realmente vivê-la enquanto estiver a pensá-la... este meio do caminho, o redemoinho, o olho do furacão... "Life is just what happens to you,
While your busy making other plans" (john lennon)...

entre a consciência plena da palavra que significa o mundo e o constrói e a falta de consciência de tudo numa total entrega dos corpos a fruição do viver e a contemplação... para todos todos os dias, no silêncio do carro sem som em pleno congestionamento, no auge de uma bebedeira ao lado de um trio elétrico em pleno carnaval da bahia, ao acordar no cinema no meio de um filme idiota, depois de mais uma daquelas relações que reticentemente começaram e reticentemente irão acabar, ao redigir um email para um amigo de quem se sente falta ou mesmo quando tão somente se redige o primeiro post de um blog, a mesma pergunta se repete e repete e repete e retorna, como se pudéssemos fazer alguma coisa contra os humores da natureza, um uivo faminto de uma fera que ecoa lá fora e ressoa por nossas entranhas nos consumindo por dentro, "o que voce quer ser quando crescer?"...

ser coerente na minha incoerência... fazer surgir vida do caos... desordens que se organizam... o mais honesto inimigo das reticências é o ponto final... elas preparam sua chegada, como que a desenhar o terreno em que finalmente, na passagem de um segundo para outro, um ponto se alimenta dos ponto ao lado, a fagocitose da linguagem, movimento que somente uma natureza tão dura, cruel, bela e poderosa poderia criar...

de onde viemos? para onde vamos? quem espera alguma coisa desta natureza da qual todos fazemos parte, alguma razão suprema e misericordiosa para as nossas ações, sensações, reações, comoções, transições, venha ela de deus, de uma religião ou da ciência, quem realmente busca estas respostas tomado pelo temor da capacidade corrosiva do tempo que a tudo crudeliza e enrudesce, perde a oportunidade de sentar um dia numa manhã de domingo e contemplar o movimento do mar e da luz do sol na pele da praia, dos corpos, das águas...

ainda que o preço disso seja ser carbonizado pelo sol, numa alegoria fantastica criada por Boyle... uma freqüência de desejos que a célebre frase de Samsara de Pan Nalin, sintoniza muito bem... “Como impedir uma gota d’água de secar?”... “Atirando-a no mar”... pois no mar estão todas as gotas, a mais perfeita imagem que conheço capaz de representar unidade e multiplicidade, numa visão simples daquele futuro que todos teremos, o de virar cinzas e de nos unirmos a terra e a poeira levada pelos ventos... isto é a natureza... esta é a nossa natureza... O mar é a religião da natureza (fernando pessoa)...

e depois disso tudo, sabendo do tempo que se perde redigindo, pensando, refletindo e não vivendo realmente a vida, de que valem todas estas palavras e idéias? uma única certeza: um dia, antes que nossos corpos virem cinzas, antes que nossas mentes percam a precisão, antes que nossas consciências se percam em devaneios requentados do passado bravio que tivemos, hei de deixar registrada em carvão numa parede, num guardanapo úmido de um bar, num blog da internet, minhas histórias, percepções, sentimentos...

a natureza deu a nós humanos a oportunidade de sermos aqueles que vão brindar a existência da própria natureza com a beleza do seu reflexo numa consciência que a expande e a torna quanto mais reflexiva, quanto mais consciente, ainda mais humana e consequentemente, mais natural do que nunca... pois finalmente, podemos entender que "somos do tamanho daquilo que vemos, e não do tamanho da nossa altura" (fernando pessoa)...

escrevo porque a cada palavra que digito mais consciência tenho desta natureza que sou e que me consome, e deste papel que tenho de brindar a natureza com ainda mais consciência, força e poder de continuar sendo a natureza somente o que ela é... e infelizmente, mais cedo ou mais tarde, tanto quanto pisamos numa formiga ou ingerimos um antibiótico contra gripe, seremos nós os eliminados...

vão-se os corpos que envelhecem e morrem, o tempo há de se alimentar de nosso sangue e carne, mas não pode tragar idéias, digerir as palavras, desintegrar as consciências... e ainda que tentem queimar os livros, eles serão memorizados como propôs um dia Bradbury... o ponto final é dado como certo, então que venha, num dia claro cheio de sol e vida, como cantou Raul, que em sua genialidade visceral propôs bailar como numa valsa, "Vou te encontrar vestida de cetim, pois em qualquer lugar esperas só por mim, e no teu beijo provar o gosto estranho, que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar, vem, mas demore a chegar, eu te detesto e amo morte, morte, morte, que talvez seja o segredo desta vida"...

enquanto o ponto final não vêm, eu pulo, me apoiando entre um ponto e outro, de reticência em reticência, fazendo rapel no abismo entre os pontos, como quem brinca com a raiva do lobo faminto do lado de fora da janela, que insistentemente repete todos os dias, "o que voce quer ser quando crescer?"...

"o que voce quer ser quando crescer?"... eu quero ser imortal... por isso, não respeito o ponto final...