sexta-feira, 9 de maio de 2008

Diálogos Magníficos do Cotidiano I - 09/05/2008


- Igor, entreguei caderno para todo mundo aqui, falta apenas entregar o seu, mas seja honesto, se eu te desse o caderno voce o utilizaria no trabalho? voce não parece que faria isso... e eu não queria este caderno mofando sem uso...

- Pô Gadelha, não vou usar mesmo não cara. Esse caderno vai ficar mofando. Costumo usar o lembrete do MAC.

- Ok, então se voce precisar em qualquer momento, me peça que consigo um pra voce.

- Além disso, prefiro confiar na minha memória... espero que ela não me traia...

- Hum... infelizmente, assim como tudo que é humano, uma hora ela vai lhe trair...

Número um


Passaste hoje ao meu lado
Vaidosa, de braço dado
Com outro que te encontrou
E eu relembrei comovido
O velho amor esquecido
Que o meu destino arruinou

Chegaste na minha vida
Cansada, desiludida
Triste, mendiga de amor
E eu, pobre, com sacrifício
Fiz um céu do teu suplício
Pus risos na tua dor

Mostrei-te um novo caminho
Onde com muito carinho
Levei-te numa ilusão
Tudo porém foi inútil
Eras no fundo uma fútil
E foste de mão em mão

Satisfaz tua vaidade
Muda de dono à vontade
Isso em mulher é comum
Não guardo frios rancores
Pois entre os teus mil amores
Eu sou o número um.

terça-feira, 22 de abril de 2008

1000 e uma reflexões que eu preferia não ter tido... e os fatos imbecis que me levaram a elas...

  • um padre demente e uma idéia de girico... se você quer aparecer tire a roupa e fique completamente nu, enfie uma banana no rabo, carregue uma melancia na cabeça, vista uma camisa do palmeiras e grite porco... faça tudo o que o cão lhe atentar, mas evite voar com 1000 balões num dia chuvoso... para variar, além da idéia idiota, o padre carregava um GPS (o que não é uma idéia idiota!)... mas ele esqueceu de entender como funcionava (isso sim é o cúmulo da idiotia!)... este padre queria aparecer... e escolheu a fila do Padre Pinto... nem todo mundo tem a sorte de escolher a fila do Padre Marcelo...
  • uma do padre marcelo... ao ser perguntado o que ele pensava que era importante para vida de um homem de deus... ele ergue a mão e indica os cinco dedos... e vai dizendo da forma mais didática possível... humildade, humildade, humildade, dedicação, humildade... esse padre marcelo inspira muita gente... que o diga o padre dos balões... porque o padre dos balões não queria aparecer, ele queria ajudar as criancinhas... na verdade, os filhotinhos... de tubarão... rárárá rárárá rárárá rárárá rárárá rárárá rárárá rárárá....
  • outra do padre marcelo... é o padre marcelo que aparece em todas as degraças transmitidas na tv ou é a tv que transmite as desgraças em que o padre marcelo está por perto? agora á a vez da menina izabela...
  • Porque a Xuxa foi se solidarizar com a mãe da menina Izabela? Será que ela tem medo que aconteça o mesmo com a Sasha? Mas será que o Szafir faria isso? Não né... depois da Daniela Perez todo mundo viu que isso pega mal pra caralho... Deve ser porque a idiota não pode perder uma oportunidade de aparecer na TV como uma santinha de meia tigela... e aí Pelé, por onde voce tem andado? Meus instintos dizem que as últimas lágrimas sinceras de Xuxa você não pode enxergar, porque ela estava de costas... com drible da vaca e tudo... erra o gol mas não perde o lance...
  • outra do domingão... imperdível... mais decadente que isso só o Roberto Carlos cantando no cruzeiro das loucas da terceira idade... e vai começar... “o grande prêmio de mágica internacional”... “e vamos começar com essa loirinha do kentucky... huummm.. olhem como ela pula bonitinho... ela tem um pano preto na mão... ela mexe o pano... mexe mais um pouco... como ela mexe bonitinho essa kristin... será que ela vai fazer uma mágica? Ela mostra um desenho de coelho no pano... hummm... ela mexe de novo... “ chega, tá bom demais... é aquela velha história: Porque o Cid Moreira não morreu a uns vinte anos atrás?
  • quem não achou os matadores profissionais de filho alexandre e ana carolina convincentes levante a mão? Mas não se esqueçam, como diria alexandre “quando levantarem a mão certifiquem-se de estar com o corpo da menina todo pra fora da janela e com ela sufocada e quase morta”... estes sim, são uns filhos da puta... e ainda são convincentes... nessas horas, honestamente, eu preferia acreditar numa espécie de feitiço vodu, ou possessão demoníaca... mas é realmente incrível como a mente e as ações humanas conseguem superar anos luz a realidade nua e crua da natureza dionisíaca da vida...
  • em salvador um idiota entra com algumas latas de solvente dentro de um ônibus... elas pegam fogo, muita gente se queima feio, muita gente se fudeu.... e aquela velha pergunta fica em nossas mentes: será que este idiota estava fumando?
  • pegando embalo na imbecilidade... em todo brasil, um idiota para com seu carro novo, com uma gata no carona, para tomar uma cervejinha num posto de gasolina... ele compra uma skó... duas skó... não fez nada demais... o posto de gasolina explode, todos morrem... será que ele acendeu um cigarrinho pra acompanhar a cervejinha? (essa é uma profecia...)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

...porque eu gosto muito de beatles de verdade...

poxa, é necessário um esclarecimento básico... eu gosto muito de beatles, sem dúvida os maiores gênios da cultura/música contemporânea, surpreendentes na delicadeza e na intensidade em que escreveram e deram vida a cada uma de suas músicas... gostar dos beatles é meio como se assumir maconheiro, ou surfar, ou ser judeu, jovem cristão... assim... gostar dos beatles é fazer parte de uma comunidade muito extensa e diversa... daqueles que conhecem muito aos que acabaram de conhecer... dos que insistem em deificar um deles em detrimento dos outros... dos que repartem o organismo em fases rock, pop, psicodelica... dos que gostam de uma música, um disco, dos que lembram de uma capa, dos que respeitam e admiram e confessam terem ouvido pouco...

beatles para mim representa presença e descoberta... porque eu gosto do pink floyd, mas ainda assim chega um determinado momento que o som deles, por mais que eu seja definitivamente fascinado pela capacidade deles de criarem pérolas universais e cósmicas, mas se repete, ou emudece, ou exagera, ou apenas chega... beatles representa descoberta porque cada música é um novo tema, e cada tema promove e registra um momento como se ele não pudesse nem ter sido pensado sem aquela trilha, naquele ritmo, entre aquelas pessoas, fazendo aquelas reflexões... por mais que já tenha ouvido centenas de vezes nowhere man, no dia em que estive sozinho numa viagem a porto seguro, depois de uma noite exagerada e regada a destemperos e muito alcool, fiquei por duas horas olhando o mar e ouvindo somente esta música, repetidamente, repetidamente, repetidamente, repetidamente... e juro que sentia aqueles caras ali, tocando e cantando junto comigo “Nowhere Man, the world is at your command”, “Making all his nowhere plans for nobody”...

e num passado distante, a long long long time ago, eu ouvia por passatempo o álbum branco também repetidas vezes quando conheci Alenka Schmidbauer, uma garota austríaca muito bonita e simpática que me pediu para identificar o que eu ouvia no compact disk (ainda não existia Ipod)... eu ouvia o álbum branco... ela tinha 19 anos e viajava ao redor do mundo ao lado da amiga tanya, outra garota de 18 anos... e ela me disse, me recordo de suas palavras... “oh, you are listening the white álbum... great... what´s the best music for you?”… eu nunca tinha pensado naquilo… respondi a verdade, na época era a música que eu mais ouvia... “Yer Blues”… e ela falou… “It´s nice”… fiquei frustrado com a resposta e perguntei a dela... e ela falou... “I´m so tired”... naquele momento fui ouvir aquela música que tantas vezes passou despercebida... e descobri beleza daquela canção sendo recitada na voz de uma linda garota austríaca de 19 anos... vida longa para Alenka Schmidbauer... e por isso beatles é também fonte de eternas descobertas...

e nos últimos seis meses, ouço "I´m so tired" praticamente todos os dias... e porque depois da descoberta, a música que fora tema de novela, reverbera no acaso e no caos e se transforma em instrumento de alívio cotidiano...

I'm so tired
The Beatles

I'm so tired,
I haven't slept a wink
I'm so tired, my mind is on the blink
I wonder should I get up and fix myself a drink
No,no,no.

I'm so tired
I don't know what to do
I'm so tired, my mind is set on you
I wonder should I call you but I know what you would do

You'd say
I'm putting you on
But it's no joke,
it's doing me harm
You know I can't sleep,
I can't stop my brain
You know it's three weeks,
I'm going insane
You know I'd give you everything I've got for a little peace of mind

I'm so tired,
I'm feeling so upset
Although I'm so tired
I'll have another cigarette
And curse Sir Walter Raleigh
He was such a stupid get.

You'd say
I'm putting you on
But it's no joke,
it's doing me harm
You know I can't sleep,
I can't stop my brain
You know it's three weeks,
I'm going insane
You know I'd give you everything I've got for a little peace of mind
I'd give you everything I've got for a little peace of mind
I'd give you everything I've got for a little peace of mind(mumbling)

segunda-feira, 7 de abril de 2008

...e foi durante um belo dia de boas ondas...

domingo, praia do sítio do conde, praia sem vento, ondulação de força média, séries de meio metro, com bastante paciência podia se encarar uma seriezinha de um metro, a cada uma hora, demorando muito... podia-se dropar lá no outside com as ondas gordas e abrindo, a uns cinqüenta metros da beira da praia, e ir até a areia numa mesma onda, com ela se fechando vagarosamente até fechar completa na areia...

o mar vazio comigo e outra cabeça surfando de um lado pro outro, uma onda atrás da outra... tipo de brincadeira que dá vontade de morrer brincando, de não parar, de ficar até quebrar tudo, até a água do mar secar ou o corpo ir se liquefazendo...

toda esta brincadeira começou sábado e foi entrando pelo domingo melhor do que nunca... foi quando fui pego de surpresa por uma experiência que já ouvira falar ser cotidiano dos surfistas... a terceira experiência mais traumática de minha vida como surfista (e primeira foi quando partiu o leash num swell monstro e eu estava sozinho no mar, imaginem, voltei nadando com o mar puxando muuuuito... a segunda foi quando quebrei a quilha na minha perna e me machuquei feio)... corpos ao mar, afogamentos, cadáveres boiando... no meu caso, um garoto de 14 anos se afogando, já sem forças, no meio de ondas grandes, engolindo muita água...

eu ia dropar uma das ondas grandes quando ouvi uma voz gritar socorro... confesso que não levei a sério, pensei ser garotos brincando, tinham vários ao redor, dei as costas e segui para o fundo, mirando as ondas... foi quando ouvi de novo, “socorro, eu vou morrer, socorr”... a voz foi calada pela água sendo engolida... olhei na direção do som, atrás de mim uma onda crescia e ia quebrar exatamente em cima do rapaz que só tinha as mãos fora dágua...

isso tudo ocorreu em mim exatamente como descrevo agora... por um, dois, três segundos, tive medo e passou pela minha cabeça dar as costas, ir pedir ajuda, perto do garoto tinha umas pedras também, nós dois podíamos nos machucar, ele tinha quase meu tamanho, ia ser difícil retira-lo dali, e se eu saísse dali ele iria morrer, sem dúvida... mas juro que só foram três segundos... porque eu não resisti ao apelo da vida do rapaz, em desespero... e fui salvá-lo...

e no meu cérebro naquele momento, lembrei do livro de saramago “o evangelho segundo jesus cristo”... do trecho que aborda o erro de josé ao ouvir uma conversa entre soldados romanos que tratavam do velho pesadelo de herodes sobre o nascimento do salvador do povo que acabaria com seu reinado de maldade e tirania... para preservar seu reinado, herodes ordena a morte de todos as crianças primogênitas da galiléia... ao ouvir aquilo, josé ao invés de lutar contra todos e avisar vizinhos e parentes e tentar salvar a vida de algumas crianças, covardemente foge com o filho para as colinas e de lá, com a vida do filho salva, passa a noite ouvindo os gritos desesperados de pais e mães assistindo a cruel morte dos seus filhos...
a conseqüência deste ato covarde leva josé a loucura e um dia, com jesus adolescente, quando ele é preso pelos soldados romanos, se entrega e pede a morte na cruz... cristo descobre que sua vida é fruto de um ato de covardia do pai... aí começa o sumiço de cristo, o trecho de sua vida que pouco se conhece...
abaixo trecho que faz referência ao livro: “Porque é que o carpinteiro José não avisou todas as mães de Israel daquilo que José sabe: que Herodes vai assassinar todos os recém-nascidos do reino? Para salvar Jesus, para que Jesus cumpra o seu destino, que será, também, a sorte da morte? Será que José reserva Jesus para a morte na Gólgota? Para isso salva-o Herodes? E os outros, todos os outros meninos, esses o quê? Pode elevar-se a glória de Deus ou de um governo sobre a miséria de um só menino morto?”
...acima um quadro do artista barroco Peter Paul Rubens, "O Massacre dos Inocentes", ilustra este momento da loucura de herodes...
e naqueles segundos eu pensei nisso tudo... e vi o garoto me olhar e pedir socorro de novo... e nadei como nunca em direção ao rapaz, e quando estava a dois metros dele, uma última onda o cobriu com força, eu esperei, ele desapareceu na espuma e não subiu pra superfície, eu larguei a prancha, mergulhei e agarrei ele pelos braços e subi ele jogando-o em cima da prancha... ele se agarrou em desespero na prancha... atrás uma onda imensa decide quebrar de novo em cima de nós dois, tomamos a vaca e ele se distancia de mim, uns dois metros e volta a engolir agua... eu o alcanço e seguro ele apoiando-o na prancha... o mar não deu trégua, vinha uma outra onda, ainda maior... eu grito para ele, “segure minha mão, e não largue”... ele responde “eu vou morrer, não me deixa morrer”, eu gritei, “vai morrer porra nenhuma rapaz, eu vou te tirar daqui, agora puxa o ar e mergulha que ta vindo outra onda”... ela já quebrava em cima da gente... não dei tempo pra ele respirar... mergulhei e puxei ele com força pro fundo... ele se debateu mas eu segurei, e quando senti o alivio da força da onda eu subi, ele estava zonzo, e vinha a ultima onda da série, maior de todas... ele chorava e eu disse “para de chorar porra... respira que a gente vai mergulhar de novo”... e quando a onda chegou perto, eu mergulhei e puxei ele de novo, neste momento ele já foi mais fácil, já não segurava minha mão, eu tive que fazer força para segura-lo, o que comprovava que ele estava ficando inconsciente... era a ultima onda... o mar alisou... eu coloquei ele na prancha e fui indo pra beira... ele vomitava água e estava grogue... ainda chorava... cheguei na beira da praia e ele não tinha forças pra nada, já estava quase desmaiado... coloquei ele no colo e fui pra areia... uma multidão se aglomerou ao meu redor... chegou o salva vidas, não conheço primeiros socorros, deixei ele fazer o serviço dele, e ele também não sabia... mas o garoto se manteve acordado e vomitou bastante água, o que era bom... muita gente ao redor... senti que tinha feito minha parte... aparece meu pai... pergunta o que foi, se assustou, pensou que tinha sido eu... aparece a mãe do menino, desesperada... eu fui voltando pro mar... meu pai passou do susto já tava mais tranqüilo... fui voltando pro mar... alguém grita... “foi o surfista minha senhora”... eu viro... ela vem em minha direção e me dá um beijo e me abraça dizendo... “você é uma alma abençoada, é o salvador de meu filho, obrigada, você tem uma missão aqui, era pra você estar no mar, era pra você estar lá... você é um anjo rapaz, um anjo”... fiquei emocionado... disse a ela que só fiz o que tinha de ser feito, como qualquer outro em meu lugar...

virei de costas... e segui pro mar... dei as costas a todos... e de repente ouvi a multidão me aplaudir, uns quinze segundos... eu não virei de costas... fiz questão de ser um qualquer para todos eles... sou um humano como outro qualquer... que não saberia assistir a morte sentado, tranqüilo...

voltei ao mar... surfei quinze minutos e ouvi garotos gritando e fui ver o que era... eram garotos brincando... eu estava tenso, preocupado, ouvindo coisas... não consegui mais me concentrar no surfe... deixei o mar... meus pais estavam orgulhosos, e eu também... eu consegui... salvei uma vida... e senti medo, como um ser humano deve sentir, mas não me acovardei... superei... mas já era o bastante por aquele dia...

tive medo... não gostaria de viver aquilo de novo... mas acho que aprendi a lição de que essas coisas não se escolhe... é muito difícil encarar o fato de que existe uma vida nas suas mãos... e muito difícil imaginar que eu posso fazer alguma coisa e não farei... decidi fazer um curso de primeiros socorros... quando decidir salvar alguém, irei de verdade, até o fim...
http://www.cdof.com.br/socorros2.htm

é assim que deve ser... e é assim que será...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

os supremos... mark millar, bryan hitch, andrew currie...

aí em cima esta a capa de marvel zombies, de robert kirkman, historia de um universo paralelo da marvel onde todos os heróis são zumbis... tenho a revista zero, chamada dead days, magnífica... mas quero falar de outra coisa... comprei a edição definitiva de capa dura dos supremos na saraiva... peguei pela internet, sem pagar frete, num preço que caiu do céu... lindo... e outra obra, killing joke, piada mortal, allan moore fazendo batman e coringa... o melhor do melhor de batman... voltando a tal compra, ainda de quebra peguei também uma coletânea profissa do alex ross e algumas histórias do monstro do pântano de allan moore... mas quero falar dos supremos...
estes ai em cima são os supremos, edição definitva... podem chamar de coisa de criança, e criança gosta mesmo destas coisas, mas a evolução da linguagem utilizada nestas revistas e a interferência de temas e contextos contemporâneos e suas decorrentes interpretações dadas tanto aos perfis dos personagens quanto aos ambientes que interatuam é digna de ser considerada como, junto com o cinema, as animações e os jogos eletrônicos, um dos mais fabulosos produtos culturais da atualidade...
e os trezentos de esparta de frank miller... tenho a edição de capa dura e widescreen... estas novas obras dos quadrinhos são encantadoras... a arte gráfica e os roteiros possuem uma noção/definição estética tão bem construída que sua transposição para outras mídias, como no caso do cinema ou das animações é imediata... frank miller, neil gayman, kurt busiek, allan moore, alex ross, jeph loeb, robert kirkman... e enfim, mark millar, bryan hitch, andrew currie e os supremos...
não quero falar muito... não devo... sim , é uma história de super heróis... sim, o capitão américa representa o herói americano, e ele é o grande líder do grupo e a grande referência de ética, ordem e justiça... um personagem fora de sua época, o mais reacionário, o de valores antigos e muitas vezes antiquados... o homem de ferro um moribundo rico e bêbado... thor um humano lunático que se diz deus, hippie e anti-imperialista... bruce banner um cientista frustrado, hank pym tem problemas com violência doméstica... os supremos ainda não chega ao pesadelo beatnik do universo dos planetary, como no caso do personagem do doutor, anti herói que viaja no tempo apenas com o pensamento e pode intervir e mudar a história nestas viagens, mas que para fazê-lo precisa estar dopado e injetar heroina na veia... e vive a ponto de morrer de overdose... mas já provoca muito o que pensar... e nos faz repensar o papel destes heróis que se destacam quanto mais se parecem com o homem comum...

terça-feira, 1 de abril de 2008

"Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente." Fernando Pessoa

eu sou chefe... e meus subordinados não acompanham muito o que escrevo... já sou chefe a uns... sete anos... já contratei muita gente, demiti alguns, orientei outros, discuti com vários, enfrentei a maioria... e descobri a minha forma de exercer o poder... e estou satisfeito com ela...
sou um homem que não negocia as posições sexuais... puxa com força ou beija com leveza, toma pelos braços e joga na cama, com a mesma certeza que carrega no colo enquanto lambe o pescoço e respira com dificuldade... dificilmente me deixo levar... assim como na música, quem conduz sou eu...
por vezes me deparo com um enfrentamento... sou acusado de mandar demais... e mandar demais é algo que me incomoda profundamente, pois sempre enxergo como algo que cerceia a liberdade, que limita a vida... mas eu mando demais, muitos me dizem isso... não deve ser mentira... eles devem estar certos...
já ouvi inúmeras vezes, "porque tem que ser sempre do seu jeito?"... não precisa ser sempre do meu jeito... mas eu quero que seja sempre do meu jeito... mas as coisas só serão do meu jeito se o outro quiser, assim como eu quero... eu preciso que ele queira que as coisas sejam do meu jeito... eu preciso...
foi quando recebi um tapa na cara... pois sempre pude perceber que a necessidade de fazer com que as pessoas cumpram aquilo que é meta minha é na verdade uma relação muito forte de dependência direta minha... é daí que surgem as ordens... quero que façam o que eu quero, como eu quero, por isso mando, pois preciso deles para que as coisas aconteçam... mas quando saio e as pessoas ficam por conta própria, acabam fazendo como querem, e o que querem... pois jamais farão exatamente aquilo que eu quis da forma que eu quis...
enfim, eles nunca se abalaram com nenhuma de minhas ordens... nunca houve uma “ordem”... é tudo coisa minha, de minha cabeça, como mais uma de tantas idiossincrasias...e no fundo, no fundo, quando mando demais, quem acaba perdendo a liberdade sou eu...

terça-feira, 25 de março de 2008

...você que completa dezoito anos, aliste-se já...

o silêncio dos cumes cobertos de neve, a imensidão branca e muda e fria, o medo da altura no alto de montes formados de flocos, de grãos, de rochas... quando ganhei a base no surf passei a acreditar que o skate poderia também ser familiar.. eu não estava errado, a única diferença é que quando o corpo cai ele quica ao invés de mergulhar (isso não é engraçado...)... ando pouco de skate hoje, já estirei um músculo do braço e fiquei três meses sem surfar... então o skate ficou em segundo plano...
lógica por lógica, a mesma que me levou a acreditar na habilidade do skate, me levou também a acreditar na habilidade do snowboard... ano passado, após uma transformação grande, em que fui demitido de dois empregos ao mesmo tempo, depois de dez anos de trabalho duro, me vi no direito de realizar o sonho de esquiar... fui para bariloche, argentina... comprometido a esquiar...

não vou falar da viagem em si, como sempre as vivo de forma pouco planejada e no curso dos ventos e das pessoas que se batem comigo... meu compromisso de esquiar era a única meta concreta... cheguei em bariloche com milena, e a acompanhei no esqui... ela se desenvolveu, eu aprendi fácil, mas nem me concentrava direito... eu invejava a velocidade e a mobilidade dos snowboarders... tinha medo de não conseguir... não agüentei... no dia seguinte aula de snowboard...

a experiência de esquiar em um snowboard exige alguns esclarecimentos...

primeiro, não se esquia com a prancha deslizando na neve por completo, como se faz com a prancha de surf... a prancha de snow é feita de material duro e flexível, o kevlar, difícil de quebrar, e nas beiradas da prancha existe uma fina camada de aço, como uma lâmina, que raspa a neve; para controlar a prancha é necessário se apoiar nas beiradas da prancha, sob as lâminas; pois todo o resto desliza muito.
a prancha sempre imprime alta velocidade, e no snow ela depende de três fatores: a inclinação da montanha, a posição do snow, e a nossa velha conhecida das aulas de física, a gravidade; quanto a posição do snow quem controla é você, se ele deslizar muito você cava a montanha com a beirada de aço e pára a prancha, é quase instantâneo e forma uma pequena avalanche de neve abaixo de você, se você errar e estiver muito inclinado para frente ou para trás nestas paradas bruscas será inevitavelmente lançado com muito força para frente ou para trás como uma bola de neve; quanto a inclinação da montanha, vale ser cuidadoso no início enquanto estamos aprendendo, porque também dá pra controlar um pouco a velocidade do snow, pouca inclinação permite o snow ir ganhando velocidade devagar e a gente ir aumentando na medida da nossa capacidade de controlar a prancha, já quando se trata de muita inclinação ai a conversa é outra...; é que não existe montanha toda bem formadinha, com uma descida uniforme, ela é feita de pequenos buracos, e quando a gente fala em inclinação, quem imprime velocidade é a gravidade, enfim, é inevitável deslizar uma montanha e em determinados momentos atingir uma velocidade que beira a queda livre; agora imagine que sem fazer esforço nenhum voce sai de um estagio zero de velocidade e atinge uma aceleração absurda com a capacidade de controlar a prancha e parar quando quer?
a prancha é grande, costuma-se medir pela distância entre os pés e o nariz do usuário; as quedas são doloridas e complicadas, pois a prancha não descola dos pés, ela é fortemente presa, por botas com garras de aço, se você cai suas pernas viram uma hélice girando e deslizando e seu corpo não pará enquanto a inclinação não cessar, ou a prancha enfiar uma das pontas na neve; as quedas podem ocorrer em dois tipos de chão, na neve em flocos, fofa como um colchão, é muito divertido, mas mesmo assim é preciso cuidado, pois a neve as vezes esconde pedaços de rocha, ou na neve de pista, aquela que os outros esquiadores passaram antes de você e alisaram, e que deixa de ser fofa e vai ganhando a consistência dura do gelo; numa estação de esqui você pode escolher as pistas ou fora de pistas (http://www.catedralaltapatagonia.com/images/mapapistas_big.jpg): nas pistas não existem rochas e arvores, mas o chão é de gelo, fora de pista a neve é fofa mas as árvores e as rochas estão em toda parte; sugestão: aprenda nas pistas e quando controlar bem o snow siga para fora das pistas;

orientação para as quedas, sempre cair com os braços dobrados metendo com força os cotovelos na neve ou no gelo; evitar cair de costas pois estas quedas costumam forçar a coluna e costelas; não deixe as pernas girarem nas quedas, procure meter com força o snow na neve para pará-lo, se você deixar girar a própria sorte e estiver em alta velocidade irá quebrar a perna inevitavelmente, este é o acidente mais comum;


no mais... comecei numa descidinha light, pegando o swing da prancha, pois a base muda, você trabalha com a parte externa dos pés e com os tornozelos e joelhos... e pra aprender é preciso ir trocando de base, o que é difícil, e prepare-se: a gente cai muito e se machuca bastante, pois o gelo das pistas é duro como o chão; e como a prancha desliza bastante, já dá pra sentir um gostinho da velocidade mesmo numa descidinha simples dessa...


me empolguei e já na tarde do mesmo dia que aprendi subi para descer pela primeira vez a montanha... você escolhe as pistas através de bandeiras de cores diferentes que indicam o grau de inclinação das mesmas... sinta só o nível da gradação... verde, azul, vermelho e preto... inicial, intermediário, avançado, experts... desci em pistas iniciais e intermediárias... no decorrer da montanha é bem comum ver pequenas manchas de sangue, que a brancura da neve deflagra... é muito legal ver filas de vinte, trinta crianças, com até dez anos, muitos de cinco, seis anos, descendo com professores em fila, muitas vezes em alta velocidade... todos estão sempre muito realizados e tranqüilos, imagine quando duas cabeças se batem na montanha descendo em velocidade? eu atropelei uma menina... atropelos são freqüentes... ser atropelado também não é legal, evite os nativos, regra geral...


e esta brincadeira com neve, montanha, o silêncio, o azul intenso do céu, o sol tão próximo e ardente, e a satisfação estampada no rosto de todos, a alegria freqüente de ver alguém emocionado pelo contato com a neve... e percebe-se que, se você está disposto a cair muito, os machucados são poucos e aprende-se razoavelmente fácil, e em pouco tempo já se tem o controle e a coragem para atingir altas velocidades... nem pensamos em machucados e cosnequencias... e depois disso tudo detonar duas garrafas de vinho tinto chileno por cinco dólares cada, comendo um bom bife de choriza com papas fritas por 5 dolares...

este ano vou para duas outras estações de esqui, na argentina que é mais barato... las leñas e penitentes... já tenho toda planilha de custos, detalhada, passo aos interessados...

segunda-feira, 24 de março de 2008

das origens e dos fatos... tariq ali, persépolis e a palestina...

assim comecei este texto, naquele dia em que assisti 24 horas e vi um terrorista muçulmano com a minha cara... sim, eu tenho traços turcos, árabes, e após algumas pesquisas familiares, estamos todos convencidos, que ainda que distantes, temos um pé na mesquita e um olho no alcorão... e eu torcendo para jack bauer...

enfim, de jack bauer para tariq ali... “confronto de fundamentalismos”, decidi conhecer a religião islâmica e a história dos países que compõem o islã... buscar um pouco de mim mesmo naqueles relatos... tariq consegue com maestria falar com objetividade sobre sua vida que é a vida daqueles povos e nações... é impressionante a história da caxemira, região de conflito entre a Índia e o Paquistão, ele estudou numa faculdade lá e a descreve como “situada no local das paisagens mais lindas do planeta”, fica na região do himalaia... imagine estar lendo sobre a trajetória do paquistão e sobre o poder e a ditadura subserviente aos eua dos bhuto e durante a leitura do livro receber a notícia que benazhir bhuto morrera num atentado (http://br.truveo.com/Bush-diz-que-morte-de-Bhutto-foi-ato-covarde/id/107287626)...
e por último... depois de conhecer tudo sobre o império persa e a antiga persepólis, o atual Irã, se deparar com a obra magistral de mariane satrapi e vincent paronnaud, Persépolis... a história desta transformação de uma das nações mais cultas e promissoras do planeta em berço do fundamentalismo islâmico, do fanatismo anti-imperialista, um amontoado de escombros do pós guerra irã-iraque... uma nação que apodrece aos poucos, bombardeada pelo iraque, comprada pelos americanos, violentada por seus próprios homens, maridos, filhos... uma nação de mulheres mudas...
e ao ir no cinema assistir este desenho belíssimo, me lembrei de uma revista em quadrinhos que já devia ter alguns meses esquecida em minha estante, comprada na mesma época que “confronto de fundamentalismos”... “palestina, uma nação ocupada” de joe sacco, quadrinhos políticos que reportam a situação da palestina e de israel nos últimos 80 anos, da declaração de balfour a instalação dos últimos assentamentos judeus em território árabe, do consentimento dos impérios americanos e britânicos com todas estas invasões ao interesse de sharon, shamir de continuar expandindo, dominando, expulsando, humilhando os palestinos... “uma terra sem povo para um povo sem terra”...
leiam... são todas obras fundamentais e que fazem parte das transformações do mundo... serve para entendê-las... sobreviver a elas... e quem sabe conhecer um pouco mais de nós mesmos...

quarta-feira, 5 de março de 2008

Mas o Muzenza não vai mais chorar...

Eu, eu peço a Deus que lê benza, Muzenza...
Que toda luz lê ascenda,Muzenza...
Que ascenda o chão do terreiro,
Reduto de guerrilheiros
onde Ahôn vem dançar,
Muzenza...

Eeeeeee...

O negro no cativeiro,
Da terra mãe foi embora
Andou por aí sem paradeiro,
Lutou como luta até agora
Para ver se ainda encontra seu lugar
Foi deixado pelo mundo a fora
De fora, de fora...
É por isso que o negro chora
E chora...

É...

Mas o Muzenza não vai mais chora...
Muzenza...
Mas o Muzenza não vai mais chora...
Muzenza...
Mas o Muzenza não vai mais chora...
Muzenza...
Mas o Muzenza não vai mais chora...
Muzenza...

segunda-feira, 3 de março de 2008

um viva para netuno...

ontem voltei a surfar... desde novembro do ano passado não faço nada... andava bebendo muito e fumando exageradamente... engordei... na esperança de resgatar um pouco da saúde, passei a beber bastante vinho... tava na média de duas garrafas ao dia, meio maço de cigarro, entrava as noites buscando vidas perdidas que ao final eram sempre insuficientes, vazias, e eu cansado acabava largado no sofá (nunca na cama) e dormia como quem morre aos poucos...

mas ontem voltei a surfar... a exatos quinze dias tive uma gripe bastante forte, tive febre de 40 graus, por três dias seguidos... cortei imediatamente cigarro e bebidas, entrei de cabeça em vitaminas, antitérmicos e antibióticos... demorei cinco dias para me sentir em condições de sair da cama... fiquei bem mas sem forças... fui comprar pão na quarta feira da semana passada e ouvi um rapaz falar com o outro “entrou hoje um swell massa de manhã, mar liso e forte, séries demoradas mas perfeitas, cheguei a fazer cinco manobras na onda abrindo”... das outras dez vezes que ouvi conversas deste tipo, comprei uma cerveja e acendi um cigarro, que era pra tirar logo aquilo da cabeça... ainda meio sem forças, sabendo que eu sentiria algum efeito colateral com aquela decisão, acordei de manhã cedo e fui pegar onda...

a água estava quente... o mar um sonho... entrei e fiquei uma hora, mais ou menos... cai numa vala e tomei uma vaca fudida... engoli água, enjoei, tossi muito, vomitei... saí tonto... mas realizado... fui trabalhar... dormi cedo a noite, decidido a ir de novo no dia seguinte... já não estava tão despreparado, mas tive pouco equilíbrio para me manter na prancha, manobrar, o mar estava forte, não tava pra brincadeira... fiquei mais uma hora, fui trabalhar, e fiquei em casa sexta feira a noite... queria dormir cedo... dia seguinte eu entraria no mar mais cedo do que nunca...

sábado não acordei tão cedo... fui surfar 09 horas... o mas estava imenso, forte, paredões lisos de água abrindo com força, eu dropei despencando em algumas ondas, minha 6.1 parecia ter vontade própria, rasgava as ondas numa velocidade que eu mal conseguia enxergar ao redor, só me mantinha ali em cima da prancha... tomei as piores vacas desses três dias... se peguei três ondas foi muito... fiquei duas horas no mar... saí bastante queimado... fui dormir... o dia seguinte era domingo... eu queria surfar cedo ... mas era sábado a noite, queria sair, festa, balada... se eu entrasse no mar 09, 10 horas, estava tudo bem...

sábado a noite, decidi dormir cedo, foi meio sem querer, deitei as 09 vendo TV e apaguei... acordei 02 da manhã... voltei a dormir... acordei 04:30... o céu já estava lilás, anunciando o sol... levantei cinco e meia e fui pro mar... aqui começa o motivo deste relato... era 05:30 de domingo... já tinham vinte, trinta pessoas no mar... tinham ondas em todos os lados da praia, algumas grandes, outras menores e compridas, as no fundo formavam pequenos tubos... e lá nos arrecifes do barong, onde o crowd se amontoava, apareciam umas godzilla que cavavam a água numa velocidade e com uma força, que todos no mar eram indubitavelmente tragados, varridos e mastigados pela boca aberta do bicho... o mar rugia, estas ondas deviam ter seus 1,5 metros de altura, paredões formados de uns trinta metros totalmente abertos e cavados... poucos topavam dropar estas ondas... quando conseguiam era admirável... os rostos assustados com o lip acertando suas cabeças com força... foram vacas homéricas...

eu dropei uma dessas... assim que entrei no mar, ainda estava com a coragem da primeira vaca do dia... ainda sinto o susto da queda livre e a prancha completamente solta na água rasgando a onda... surfei muito... saí do mar 09:30... fiquei 4 horas seguidas... saí de cansaço e sede... cheguei em casa, comi e dormi... eu iria voltar a tarde...

foi quando soube que uma amiga minha viria a praia... fui encontrá-la, já com a prancha porque depois eu iria direto pro mar... encontrei com ela que estava com uma amiga e dois amigos... os cumprimentei e sentei, conversando sem pressa de ir ao mar, tinha acabado de almoçar... foi aí que percebi que todos bebiam, a cerveja estava gelada, o amigo delas fumava... todos sabiam que eu bebia, e me provocavam... eu não pensei um minuto sequer em dar nem um gole ou tragada... eu só mirava o mar e as ondas... ouvia as pessoas falando de suas vidas sem parar, e suas preocupações e anseios rondavam um universo tão superficial e ruidoso, uma espécie de prazer sem lastro, como se aqueles humores estivessem a deriva no meio daquele mar raivoso de vida que todos ali tentavam insistentemente entender mas passavam longe... e a cerveja não os ajudava muito a pensar... eles nem queriam...

senti falta do silêncio que o mar intensifica quando se faz parte dele... o silêncio de quem senta numa prancha e nada ouve além das ondas... ali estamos todos a deriva, mas amparados pela força de nossos braços que remam e nos carregam pela trajetória que queremos... passamos a fazer parte daquele todo imenso orgânico e vivo como mais um organismo vivo a lutar pela sobrevivência... o silêncio do mar passa a ser nosso silêncio... a força das ondas nossa força... o ritmo das águas nosso ritmo... eu, como muitos que certamente me entendem neste momento, sinto uma vontade sincera de ter a capacidade de respirar debaixo d’água... peço por ondas cada vez maiores, sempre com medo mas disposto a enfrentá-las... acreditando que cada uma delas, surfando-as ou não, me ensinam um pouco do limite e da minha capacidade de superá-las...

é incrível como este contato com o mar e as ondas pode mudar de forma radical a forma de enxergar a vida e seus ritmos... me sentia no meio daquele grupo como alguém de outro planeta, como numa realidade paralela... literalmente, um peixe fora dágua...

e eu realmente não sei quando vou acender um cigarro, ou tomar um gole de cerveja... eu apenas sei que o que estou sentindo hoje, sem a interferência de nenhuma substância externa, é uma das mais intensas e duradouras sensações de realização e prazer que já tive na vida... e que estarei todos os próximos vários e incontáveis dias no mar, nem que seja uma horinha, que é pra garantir a transformação mutante nem que seja por osmose...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

"amor longe de casa", italo calvino

"Assim é: as mulheres só tiveram informações falsas sobre o amor. Muitas informações diferentes, todas falsas. E experiências inexatas. No entanto, sempre confiantes nas informações, não nas experiências. Por isso tem tantas coisas falsas na cabeça.

- Eu gostaria, sabe, nós, as moças – diz. – Os homens: coisas lidas, coisas ditas entre nós no ouvido desde meninas. A gente aprende que aquilo é mais importante que tudo, a finalidade de tudo. Depois, sabe, percebo que nunca se alcança aquilo, aquilo de verdade. Não é mais importante que tudo. Eu gostaria que nada disso existisse, que agente pudesse não pensar nisso. Mas a gente sempre espera. Talvez seja preciso ser mãe para alcançar o verdadeiro significado de tudo. Ou prostituta.

- Sabe - disse Mariamirella -, talvez eu tenha medo de você. Mas não sei onde me refugiar. O horizonte é deserto, só tem você. Você é o urso e a gruta. Por isso estou agora enroscada em seus braços, para que você me proteja do medo de você.

É uma boa moça, Mariamirella; boa moça significa que compreende as coisas difíceis que digo e logo as torna fáceis. Gostaria de lhe dar um beijo, mas depois penso que, ao beijá-la, eu pensaria estar beijando o pensamento dela, ela pensaria ser beijada pelo pensamento de mim, e portanto não faço nada."